Tráfico de Drogas e o Impacto na Segurança Pública: uma revisão de literatura

Tráfico de Drogas e o Impacto na Segurança Pública: uma revisão de literatura


Maicon Miguel da Silva[1]

 

RESUMO: Esta revisão bibliográfica investiga a inter-relação entre segurança pública e o tráfico de drogas, examinando como as estruturas do crime organizado influenciam a dinâmica social e impõem desafios às estratégias de enfrentamento. A pesquisa fundamenta-se em um arcabouço teórico composto por estudos sobre criminalidade, políticas públicas de segurança e justiça social, com o propósito de sistematizar as principais abordagens repressivas e preventivas adotadas no Brasil, bem como suas limitações. A metodologia adotada consistiu na seleção criteriosa de artigos científicos, obras acadêmicas e documentos disponíveis em bases de dados reconhecidas, permitindo uma análise abrangente e atualizada das políticas de segurança pública e seus efeitos no enfrentamento ao tráfico de entorpecentes. O estudo evidencia a importância da atuação integrada entre os órgãos de segurança, da implementação de ações preventivas e do uso estratégico da inteligência policial como elementos fundamentais para o aprimoramento das intervenções. Os resultados apontam que as políticas centradas exclusivamente na repressão têm apresentado eficácia limitada na redução da criminalidade e no controle do tráfico em longo prazo. Aspectos como corrupção institucional, escassez de recursos e falta de articulação entre os diferentes setores da segurança pública comprometem a efetividade das ações e enfraquecem a resposta estatal ao tráfico de drogas. A análise também ressalta a relevância de estratégias preventivas, especialmente aquelas voltadas para programas sociais e educacionais em comunidades vulneráveis, como forma de reduzir a adesão ao tráfico. Conclui-se que o enfrentamento ao tráfico de drogas exige uma abordagem multissetorial, que combine ações repressivas e preventivas, além de investimentos na estrutura da segurança pública e no combate à corrupção, visando à construção de um modelo de segurança mais eficiente e sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: Segurança Pública; Tráfico de Drogas; Políticas de Combate; Prevenção.

 

ABSTRACT: This literature review investigates the interrelationship between public safety and drug trafficking, examining how organized crime structures influence social dynamics and pose challenges to counterstrategies. The research is based on a theoretical framework composed of studies on crime, public security policies, and social justice, with the purpose of systematizing the main repressive and preventive approaches adopted in Brazil, as well as their limitations. The methodology adopted consisted of the careful selection of scientific articles, academic works, and documents available in recognized databases, allowing for a comprehensive and up-to-date analysis of public security policies and their effects on combating drug trafficking. The study highlights the importance of integrated action between security agencies, the implementation of preventive measures, and the strategic use of police intelligence as fundamental elements for improving interventions. The results indicate that policies focused exclusively on repression have had limited effectiveness in reducing crime and controlling trafficking in the long term. Aspects such as institutional corruption, scarcity of resources, and lack of coordination between different public security sectors compromise the effectiveness of actions and weaken the state's response to drug trafficking. The analysis also highlights the relevance of preventive strategies, especially those focused on social and educational programs in vulnerable communities, as a way to reduce involvement in trafficking. It concludes that combating drug trafficking requires a multisectoral approach that combines repressive and preventive actions, as well as investments in public security infrastructure and the fight against corruption, with a view to building a more efficient and sustainable security model.

KEY WORDS: Public Safety; Drug Trafficking; Countermeasures; Prevention.


1. Introdução

De acordo com Jesus (2016), a segurança pública constitui um dos pilares fundamentais para o bem-estar coletivo, embora enfrente obstáculos cada vez mais complexos diante da expansão do tráfico de drogas. Este fenômeno caracteriza-se pela comercialização de substâncias ilícitas que alimentam redes criminosas e contribuem significativamente para o aumento da violência em diversas comunidades. A presença do tráfico não apenas intensifica a criminalidade, mas também gera um ambiente de insegurança generalizada, afetando diretamente a rotina da população e exigindo respostas mais sofisticadas das instituições responsáveis pela segurança.

O tráfico de drogas representa um desafio estrutural à segurança pública, explorando lacunas como a ausência de policiamento eficaz em áreas periféricas e a limitação de recursos destinados ao enfrentamento do crime. Esse cenário favorece o fortalecimento de organizações criminosas que dominam territórios e estabelecem formas de poder paralelo. Como consequência, a sensação de insegurança se agrava, e as ações das autoridades muitas vezes se mostram insuficientes para conter a escalada da violência e o recrutamento de jovens para atividades ilícitas. Diante dessa realidade, torna-se imprescindível uma abordagem multidisciplinar, que envolva não apenas o aparato policial, mas também políticas sociais e educacionais voltadas à prevenção (Martins, 2020).

O papel da segurança pública no enfrentamento ao tráfico é multifacetado, englobando ações repressivas, controle de fronteiras e investimentos em inteligência para desarticular redes criminosas. No entanto, a repressão isolada tem se revelado limitada, uma vez que o tráfico se adapta constantemente às novas circunstâncias. Estratégias que aliem o trabalho policial ao desenvolvimento social podem oferecer soluções mais duradouras, criando alternativas para indivíduos em situação de vulnerabilidade e reduzindo os fatores que favorecem o ingresso no mundo do crime (Barcinski; Cúnico, 2016).

A persistência do tráfico e seus efeitos sobre a segurança pública evidenciam a necessidade de aprofundar as investigações sobre a eficácia das políticas públicas e das ações de enfrentamento ao crime organizado. A pesquisa nesse campo é essencial para fornecer subsídios teóricos e práticos às instituições de segurança, contribuindo para o aprimoramento das políticas preventivas. Assim, é fundamental considerar não apenas os mecanismos de repressão, mas também iniciativas voltadas à prevenção e à reinserção social, promovendo uma análise crítica e atualizada dos desafios e das possíveis soluções no contexto da segurança pública e do tráfico de drogas (Araujo, 2019).

A questão central que orienta esta pesquisa é: de que forma o tráfico de drogas impacta a segurança pública e quais estratégias se mostram mais eficazes para seu enfrentamento? O objetivo geral consiste em analisar os efeitos do tráfico sobre a segurança pública, identificando as principais políticas e estratégias de combate adotadas no Brasil e avaliando sua efetividade. Os objetivos específicos são: (I) realizar uma revisão da literatura sobre as estratégias de combate ao tráfico de drogas no Brasil e em outros países; (II) investigar os impactos do tráfico nos índices de criminalidade e na percepção de insegurança em áreas urbanas e rurais; (III) examinar os desafios e limitações das políticas públicas atuais no enfrentamento e prevenção do tráfico de drogas e suas implicações para a segurança pública.

A atuação do tráfico de drogas representa um dos principais fatores de instabilidade social e de agravamento da violência nas comunidades, afetando diretamente a eficácia das políticas de segurança. A pesquisa sobre esse tema é crucial para avaliar as medidas existentes e propor novas abordagens que reduzam os danos sociais e econômicos provocados pelo crime organizado. Ao oferecer uma análise abrangente e atualizada sobre os impactos do tráfico na segurança pública, este estudo busca contribuir para o desenvolvimento de políticas mais integradas e eficazes, que combinem ações repressivas com estratégias preventivas voltadas à inclusão social.

A metodologia adotada nesta pesquisa é de natureza bibliográfica, com base na coleta, análise e síntese de materiais previamente publicados, incluindo artigos científicos, revisões sistemáticas, meta-análises e obras acadêmicas relevantes. As fontes foram selecionadas em bases de dados reconhecidas, como JusBrasil e Google Acadêmico, utilizando palavras-chave como “segurança pública”, “tráfico de drogas”, “políticas de combate ao crime” e “criminalidade”. Os critérios de inclusão consideraram a relevância temática, a atualidade das publicações e a qualidade metodológica, permitindo uma compreensão aprofundada das estratégias de enfrentamento ao tráfico e seus reflexos na segurança pública.


2. Desenvolvimento

2.1 Estratégias policiais e de repressão direta

Segundo Picanço e Lopes (2016), o enfrentamento ao tráfico de drogas no Brasil é conduzido por meio de diversas estratégias repressivas e ações policiais que visam desmantelar as redes de distribuição e mitigar os efeitos do crime organizado sobre a segurança pública. As operações de apreensão de entorpecentes ocupam posição central nesse processo, sendo realizadas em locais estratégicos e regiões com elevada incidência de atividades ilícitas. Tais operações têm como objetivo interceptar substâncias ilegais antes que alcancem os consumidores, além de capturar indivíduos envolvidos na comercialização, enfraquecendo as estruturas operacionais do tráfico. A apreensão de drogas, portanto, representa não apenas uma medida de contenção, mas também uma demonstração da presença estatal e da capacidade institucional de enfrentamento ao problema.

Outro aspecto relevante no combate ao tráfico é o reforço das zonas de fronteira, considerando que grande parte das drogas consumidas no país é proveniente do exterior. Esse reforço implica em maior vigilância e controle, com o uso de tecnologias e equipamentos que auxiliam na identificação de substâncias ilícitas e movimentações suspeitas. As ações são intensificadas em regiões fronteiriças com países produtores, como Bolívia, Colômbia e Paraguai. A atuação conjunta entre diferentes corporações, como a Polícia Federal, o Exército e a Polícia Rodoviária Federal, é essencial para garantir uma resposta coordenada e eficaz diante da complexidade do tráfico internacional (Picanço; Lopes, 2016).

As atividades investigativas também desempenham papel fundamental nas estratégias de repressão. Profissionais especializados coletam dados que permitem mapear as estruturas das organizações criminosas, identificando lideranças, rotas de distribuição e padrões operacionais. A inteligência policial, nesse contexto, viabiliza intervenções mais precisas e seguras, reduzindo os riscos para os agentes envolvidos. Para isso, são utilizados recursos tecnológicos como monitoramento eletrônico e análise de bases de dados, que facilitam a identificação de conexões entre suspeitos (Jesus, 2019).

Além das investigações convencionais, a utilização de agentes infiltrados tem se mostrado uma técnica eficaz no combate ao tráfico. Ao se inserirem nas organizações criminosas, esses agentes obtêm informações privilegiadas sobre as operações internas, permitindo à polícia compreender melhor a dinâmica das facções. Embora eficiente tal estratégia envolve riscos elevados e exige suporte institucional robusto para garantir a segurança e o anonimato dos envolvidos (Jesus, 2019).

De acordo com Santoro et al., (2018), as operações de repressão direta ao tráfico frequentemente fazem uso de armamentos e veículos especializados, como blindados, helicópteros e armas de grande porte, com o intuito de garantir a segurança dos agentes e minimizar os riscos à população. No entanto, o uso intensivo da força em áreas densamente povoadas levanta questões éticas e sociais sobre os limites da atuação policial nesses contextos.

O tráfico de drogas, por sua vez, adapta constantemente suas práticas para escapar da repressão, investindo em tecnologias de comunicação e logística que dificultam a interceptação. Em resposta, as forças de segurança aprimoram seus métodos de monitoramento, utilizando drones, interceptações telefônicas e sistemas de vigilância para rastrear atividades suspeitas. Tais ferramentas se tornaram indispensáveis para aumentar a precisão das operações e reduzir falhas (Santoro et al., 2018).

Um dos desafios das ações repressivas é o impacto nas comunidades onde o tráfico está presente. Intervenções policiais em áreas periféricas podem gerar transtornos à população local, que sofre com a violência e a presença constante das forças de segurança. Isso cria uma relação ambígua entre a polícia e os moradores, onde a percepção de segurança nem sempre acompanha a intensidade das ações repressivas. É necessário, portanto, equilibrar a atuação policial com o respeito ao bem-estar da população (Feffermann, 2018). Outro obstáculo enfrentado é a reincidência criminal. Muitos indivíduos, mesmo após cumprirem pena, retornam ao tráfico, evidenciando a fragilidade do sistema penal em promover a reintegração social. Essa realidade reforça a necessidade de políticas que não se limitem à repressão, mas que também incluam medidas preventivas e de inclusão social, especialmente para populações vulneráveis ao aliciamento pelo crime (Feffermann, 2018).

A atuação das facções criminosas em áreas urbanas representa mais um desafio, pois essas organizações estabelecem sistemas próprios de segurança, com indivíduos armados e estratégias de vigilância para impedir a ação policial. O enfrentamento a essas estruturas exige planejamento detalhado e intervenções prolongadas, capazes de desarticular o poder paralelo exercido sobre os moradores (Portella et al., 2019).

Conforme Lima et al., (2016), apesar dos esforços contínuos das forças de segurança, o tráfico de drogas permanece como um fenômeno resiliente. As ações repressivas são fundamentais, mas insuficientes por si só. Para que o combate ao tráfico seja efetivo, é necessário integrá-las a políticas sociais e preventivas, promovendo uma abordagem mais abrangente e sustentável, capaz de reduzir a influência do crime organizado e fortalecer a segurança pública.


2.2 Relação entre tráfico de drogas e criminalidade

Conforme apontam Costa et al., (2021), a conexão entre o tráfico de drogas e a criminalidade tem sido objeto de amplas investigações, revelando uma relação direta que contribui significativamente para o agravamento dos índices de violência em diferentes contextos sociais. O tráfico, ao estruturar organizações criminosas e estabelecer hierarquias internas, atua como um vetor de dinamização do ambiente delituoso. Essa atividade ilícita não apenas sustenta o mercado de entorpecentes, como também influencia diretamente a ocorrência de crimes como homicídios e assaltos, especialmente em regiões onde sua presença é mais acentuada. Dessa forma, o tráfico de drogas funciona como um catalisador da criminalidade, com impactos profundos em comunidades vulneráveis.

A expansão do tráfico é frequentemente acompanhada por disputas territoriais entre facções criminosas que almejam o controle do comércio de drogas. Essa rivalidade resulta em confrontos armados, elevando os índices de homicídios e violência extrema, afetando não apenas os envolvidos diretamente, mas também os moradores das áreas conflituosas. A luta pelo domínio de espaços estratégicos intensifica a criminalidade nas periferias urbanas, onde a atuação do Estado é limitada e a segurança pública se mostra fragilizada. Esse cenário evidencia o papel do tráfico na perpetuação de ciclos de violência que comprometem a coesão social (Costa et al., 2021).

Além disso, o tráfico de drogas está diretamente relacionado ao aumento de crimes patrimoniais, como furtos e roubos. A necessidade de sustentar o vício leva muitos usuários a praticarem delitos para adquirir entorpecentes, contribuindo para a instabilidade da segurança urbana. Regiões próximas a pontos de venda de drogas tendem a apresentar maior incidência de assaltos e arrombamentos, demonstrando como a demanda por substâncias ilícitas impacta a criminalidade cotidiana (Shikida et al., 2019).

A violência urbana fomentada pelo tráfico não se limita aos crimes contra a vida e o patrimônio. A presença de pontos de comercialização de drogas favorece a formação de zonas de exclusão, onde o poder paralelo imposto por organizações criminosas prevalece sobre a autoridade estatal. Nesses locais, a segurança é comprometida, e os moradores são frequentemente intimidados, dificultando a atuação das forças policiais. Essa dinâmica reforça a marginalização de determinadas áreas e dificulta sua integração ao tecido urbano (Shikida et al., 2019).

A insegurança gerada pelo tráfico afeta diretamente a qualidade de vida das populações residentes em áreas dominadas por facções. O convívio constante com a violência provoca efeitos psicológicos negativos, como estresse e ansiedade, além de sentimentos de medo e impotência. O envolvimento de jovens e adolescentes com o tráfico representa uma ameaça ao desenvolvimento dessas comunidades, perpetuando ciclos de exclusão social e criminalidade. A correlação entre tráfico e criminalidade, portanto, também implica na deterioração do capital humano e no comprometimento do progresso social (Estrela et al., 2021).

A economia do tráfico é sustentada por uma rede de crimes que ultrapassa a comercialização de drogas, envolvendo práticas como lavagem de dinheiro, corrupção e extorsão. Para manter suas operações, o tráfico corrompe agentes públicos e manipula estruturas financeiras, enfraquecendo a aplicação da lei e comprometendo a integridade das instituições. Essa relação simbiótica entre tráfico e criminalidade institucionalizada transforma o mercado de drogas em uma atividade lucrativa para diversos atores, dificultando a repressão e favorecendo a impunidade (Añez et al., 2020).

O fortalecimento das facções criminosas é outro reflexo da atuação do tráfico. Essas organizações, com estruturas hierárquicas bem definidas, utilizam os recursos obtidos com a venda de drogas para expandir suas atividades, como sequestros, extorsões e controle territorial. A ampliação da influência dessas facções intensifica a criminalidade urbana e permite sua atuação em diferentes estados e até em nível internacional. A relação entre tráfico e criminalidade se consolida a medida que essas organizações diversificam suas ações e ampliam sua presença em múltiplas esferas sociais (Amaral et al., 2019).

A interferência do crime organizado em esferas políticas e sociais também é uma consequência da expansão do tráfico. Organizações criminosas buscam influenciar políticas públicas e infiltrar-se em estruturas governamentais para garantir sua impunidade e ampliar sua atuação. Essa prática representa uma ameaça à democracia e à governança, pois o poder do tráfico passa a desafiar diretamente as instituições estatais. Nesse contexto, o tráfico assume uma dimensão política, subvertendo os mecanismos formais de controle (Silva; Tourinho, 2019).

Apesar dos avanços nas ações de combate ao tráfico, a interdependência entre essa atividade e a criminalidade impõe desafios significativos à segurança pública. O tráfico perpetua ciclos de violência, exclusão e corrupção que dificultam a formulação de políticas eficazes. A complexidade das redes criminosas e sua capacidade de adaptação exigem estratégias integradas e multidisciplinares. As ações repressivas, embora necessárias, devem ser complementadas por políticas sociais que abordem as causas estruturais do envolvimento com o tráfico, oferecendo alternativas para populações vulneráveis (Matos; Barreto, 2020).

Como afirmam Vilela e Barros (2016), a correlação entre tráfico de drogas e criminalidade revela uma cadeia de efeitos que transcende o comércio de entorpecentes, afetando profundamente a segurança e o desenvolvimento social. O tráfico atua como propulsor da violência urbana, comprometendo comunidades e ameaçando a estabilidade institucional. O enfrentamento eficaz ao tráfico requer uma compreensão aprofundada de suas interações com o crime em geral e a formulação de políticas públicas abrangentes, que promovam não apenas a repressão, mas também a prevenção e a recuperação social das áreas afetadas.


2.3 Desafios e limitações das políticas públicas de combate ao tráfico de drogas

Segundo Pessoa e Coimbra (2016), a formulação e execução de políticas de segurança pública voltadas ao enfrentamento do tráfico de drogas no Brasil enfrentam diversas limitações que comprometem sua efetividade. Um dos principais entraves é a insuficiência de recursos financeiros, humanos e tecnológicos disponíveis para os órgãos responsáveis pela segurança. A carência de investimentos restringe a capacidade operacional das instituições, dificultando a ampliação das ações, a aquisição de equipamentos modernos e a realização de operações de inteligência — elementos essenciais para lidar com a complexidade das redes de tráfico.

Além da limitação orçamentária, a corrupção constitui um obstáculo estrutural que fragiliza a implementação das políticas de segurança. Em diversos contextos, agentes vinculados às instituições de segurança pública estão envolvidos em práticas ilícitas, colaborando direta ou indiretamente com o tráfico de drogas. Essa realidade compromete a credibilidade das forças policiais perante a sociedade e enfraquece a estrutura institucional, permitindo que o tráfico se mantenha ativo sob a proteção de servidores corruptos. A corrupção institucionalizada gera um ambiente de impunidade, desestimula profissionais éticos e dificulta a consolidação de políticas eficazes (Chagas, 2024).

A precariedade da infraestrutura também limita a atuação das forças de segurança, especialmente em áreas periféricas e regiões de fronteira. A ausência de instalações adequadas e de equipamentos apropriados compromete a eficácia das operações, dificultando o controle de rotas de tráfico e o monitoramento das atividades criminosas. Essa fragilidade estrutural favorece a expansão de facções que exploram essas lacunas, tornando as ações de segurança insuficientes para desarticular redes criminosas consolidadas (Pessoa; Coimbra, 2020).

Outro desafio relevante é a falta de articulação entre os diferentes órgãos responsáveis pela segurança pública. A atuação fragmentada de instituições como a Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Federal impede uma resposta integrada e coordenada, essencial para o enfrentamento eficaz do tráfico. A ausência de alinhamento estratégico entre essas forças gera sobreposição de funções, conflitos de competência e falhas na troca de informações, comprometendo a eficiência das operações (Martins, 2020).

 

3. Considerações Finais

A análise realizada sobre segurança pública e tráfico de drogas evidencia a complexidade e a multiplicidade de fatores que envolvem essa temática, demonstrando que o enfrentamento ao tráfico não pode se restringir a ações punitivas. O tráfico de drogas impacta diretamente a segurança das comunidades, perpetuando ciclos de violência, exclusão social e fragilidade institucional. Diante disso, torna-se necessário adotar uma abordagem integrada, que articule medidas repressivas com estratégias preventivas e sociais, considerando os determinantes socioeconômicos que favorecem o ingresso de indivíduos em atividades ilícitas. A pesquisa aponta como conclusão central a urgência de políticas públicas mais abrangentes, capazes de atender às demandas das populações vulneráveis e de oferecer alternativas concretas ao envolvimento com o crime. A inclusão de programas educacionais, culturais e assistenciais é essencial para fortalecer o capital social das comunidades e reduzir o aliciamento de jovens pelo tráfico. Tais iniciativas contribuem para a construção de perspectivas de futuro e para a promoção da justiça social.

Além disso, destaca-se a importância de uma atuação coordenada entre os diferentes órgãos de segurança pública, bem como da incorporação de tecnologias e técnicas de inteligência avançadas. A fragmentação institucional, aliada à precariedade de infraestrutura e à limitada utilização de recursos tecnológicos, compromete a efetividade das ações de combate. O investimento em inteligência policial e na modernização dos equipamentos é apontado como fator decisivo para o aprimoramento das estratégias de enfrentamento ao tráfico.

Outro aspecto relevante identificado é o impacto da corrupção sobre a eficácia das políticas de segurança. A presença de práticas ilícitas no interior das instituições públicas compromete a legitimidade das ações estatais e gera desconfiança entre os cidadãos. Assim, o combate à corrupção deve ser considerado um componente essencial das políticas de segurança, visando à restauração da credibilidade institucional e ao fortalecimento da participação comunitária. Conclui-se, portanto, que o enfrentamento ao tráfico de drogas exige uma abordagem multissetorial e sistêmica, que contemple ações repressivas qualificadas, medidas preventivas estruturadas e políticas sociais inclusivas. O sucesso das estratégias de segurança pública depende da capacidade do Estado de compreender e intervir sobre os fatores que sustentam o tráfico, promovendo o desenvolvimento comunitário e a justiça social. Somente por meio de políticas integradas e sustentáveis será possível avançar na construção de uma sociedade mais segura, equitativa e resiliente frente ao crime organizado.

 

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[1]Aluno de graduação tecnológica - Faculdade Focus.